Regressado



Na despedida, uma e outra lágrima lá se libertaram do sufoco das órbitas e do aperto que nos ia dando no peito. Na retina ficaram as mudanças no perfil, tantas que me questionam sobre a capacidade do ser humano de cumprir um dos maiores desígnios de sempre: mudar. A abordagem de uma vida partida, florida de vários espinhos, silenciou-se. E nenhuma outra atitude teria sido tão acertada. Obrigado pelos tempos, pelo conforto que é sentir que aconteça o que acontecer, há outras hipóteses, outras soluções, outras saídas. Não foi uma chamada de atenção, foi uma viagem de grande crescimento pessoal: as escolhas existem e nada nem ninguém nos pode julgar por termos a audácia de as fazermos. Há muita coisa que não aceitamos, muitas coisas que não se perdoam mas com as quais se pode viver. Recordar é um reviver que nem sempre merece a marca de um "viver". Há fardos demasiado pesados, sendo o maior deles o de não sabermos se conseguiríamos ter uma vida melhor sobrevoando os erros do passado...E esse eu recuso a carregar.
Obrigado e até já:
Pai.



...
Conhecer a Alemanha foi absolutamente arrebatador. A capacidade de organização, a estrutura estatal, a visão tão fora do seu próprio tempo, a hospitalidade e a multiculturalidade, a responsabilidade pessoal e social e sobretudo a "co-paixão" de que Kundera falara aquando da dialéctica do peso e da leveza ou da insustentabilidade de um, de ambos, de outro... Quando somos capazes de "calçarmos os sapatos do outro" e vocacionamos a nossa vida nesse sentido, o que vai volta realmente...
Entretanto, ser-se português ganhou um novo significado. Esse sentimento de pertença tão natural e a identificação com um mundo cultural tão rico e tão aconchegante só deixa um sabor amargo quando me recordo do estado de sítio que se foi apoderando deste canto à beira mar, plantado pela inconsciência e pelos abusos de tantos, de muitos e de tão poucos.

2 comentários:

mfc disse...

um post importante que merecia ser lido por muita gente!
Parabéns e obrigado por tudo quanto disseste.

Anjo De Cor disse...

Gostei muito deste teu post, pelo sentimento que depositas nas palavras, "Há fardos demasiado pesados, sendo o maior deles o de não sabermos se conseguiríamos ter uma vida melhor sobrevoando os erros do passado...E esse eu recuso a carregar" ;)
A minha irmã tb regressou recentemente da Alemanha esteve lá a fazer o estagio e adorou, nem sei se vai acabar por lá parar outra vez visto que isto por aqui esta tão mau.
bjs*