Vencedoras




"(...)Sabemos igualmente que a vítima mortal era frequentemente perseguida pelos rapazes, com insultos e agressões. Sabemos que segundo os relatos, a 19 de Fevereiro, um grupo destes rapazes entrou no edifício onde Gisberta pernoitava, amarrou-a, amordaçou-a e agrediu-a com extrema violência, a pontapé, com paus e pedras. Que o grupo igualmente terá introduzido paus no anús de Gisberta, que apresentava grandes escoriações nessa zona do corpo, a queimou com pontas de cigarro e abandonou-a no local. Que a 20 e 21 de Fevereiro, voltaram ao local e repetiram as agressões. Que na madrugada de 21 para 22 de Fevereiro, atiraram finalmente o corpo de Gisberta para um fosso, numa tentativa de ocultação do crime, e que a autópsia esclarecerá se então a vítima se encontrava ou não viva, embora o facto de o corpo não se encontrar a flutuar, mas sim submerso no fundo do poço, pareça indicar que esta faleceu por afogamento nesse momento.(...)
in http://portugalgay.pt/politica/portugalgay71b.asp

"Veio a público recentemente um artigo datado de 2003 [secreto] em que o Vaticano define a sua estratégia relativa às pessoas transexuais e intersexuais.
Depois de anos de estudo, a congregação doutrinal do vaticano enviou aos líderes religiosos um documento confidencial concluindo que os procedimentos de correcção de sexo não alteram o género da pessoa aos olhos da igreja."
in http://portugalgay.pt/news/Y240911A/santa_se:_cirurgias_nao_alteram_genero_da_pessoa

Ainda há muitas lutas a travar neste mundo. Tal como muitas outras se guerrilham neste preciso momento. Escrever que a da aceitação e de enquadramento legal democrático e equalitário do "transtorno de identidade de género" (segundo a designação oficial da OMS) ou, simplesmente, da transexualidade, é uma delas, não será novidade nenhuma. 
Mas o verdadeiro problema é mesmo este: a própria sociedade acomoda-se às lutas, ensurdece-se aos seus gritos e vai vivendo a sua pacata vidinha à revelia, em última análise, da sua própria consciência. Coíbem-se de pensar sequer sobre aquilo que se grita e tendem, não raras vezes, a irritar-se com a sucessão impertinente das vozes. É um sentido de responsabilidade tremendo, de facto. 
A discriminação social e legal dos transexuais existe! O caso Gisberta existiu, foi verdadeiro e dele não distam mais do que um punhado de anos embora os vindouros também não trouxessem grandes vitórias, apesar do choque que é tão inerente ao caso. Saber que até há bem pouco tempo em Portugal se exigiam exames periciais dos órgãos genitais do transexual é montra de um atraso civilizacional colossal. Saber que ainda se goza e se gosta de ser ignorante quanto ao assunto ainda aumenta essa característica do país em que vivemos. Saber que a Wikipédia tem montes de erros, imprecisões e confusões gritantes quando se acede à página do tema e que na maioria dos dicionários digitais a palavra "transexual" ou "transexualidade" ainda vem sublinhada como se de um erro se tratasse é a triste prova de que este estado de sítio se vai impregnando pelas linhas do futuro e, assim, perpetuando a luta e encurtando a esperança.
A brasileira Gisberta ou a portuguesa Patrícia são dois casos de mulheres de uma força desmesurada que enfrentaram a maior identidade pessoal que o ser humano pode ter... e que venceram. Sejam-no também...

2 comentários:

mfc disse...

A luta ainda está para durar muitos anos... e nada se conseguiu sem a perseverança necessária.

João Roque disse...

Quantas Gisbertas desconhecidas haverá por aí?