Departure


"Enquanto não atravessarmos a dor da nossa própria solidão,
continuaremos a buscar-nos noutras metades.

Para viver a dois, antes, é
necessário ser um."
Fernando Pessoa




Já fiz por várias vezes passar esta ideia, embora de uma forma nunca demasiado explicita. Sobretudo porque mostrar os segredos das entrelinhas é desnuda-los de uma magia muito particular... É esta ideia-segredo esgota-se no incrível que é como, não raras vezes, encontramos os nossos próprios sentimentos expostos por um desconhecido, satisfazendo as nossas necessidades de expressão. Enfim, sensações boas que nos são dadas, numa unilateralidade apaixonante, por palavras como as acima.
Mas, adiante: o que vos quero contar hoje são pensamentos não tão esquecíveis. São pensamentos sobre o amor incondicional. Todos temos um, pelo menos, ao longo da nossa vida. Os que negam esta verdade das duas uma: ou são amargurados pela vida ou ainda são embalados pela presença desse mesmo amor, cuja grandeza imensurável, ironicamente, só se sente na falta... De qualquer forma, penso ter descoberto algo mais nos últimos tempos.
Acredito que aquilo de que gostamos não é necessariamente aquilo de que precisamos. Por mais que esse gostar assuma uma proporção ou profundidade admiráveis. E o tempo, a vida e o destino (as crenças de cada um que escolham o mais apropriado) acabam por pôr uma questão inevitável: ou se continua um caminho cada vez mais distante dos sonhos e das ambições que a ele levaram ou se parte para um outro, que promete muito mais. Que nos reaviva com novos sonhos. Que nos renova a vontade, o espírito, a alma, mostrando-nos a natureza sempre viva e dinâmica deste caminho. "O que tiver que ser será" e mais não acrescento.
Para se partir para a segunda opção não é preciso que vivamos uma má fase. Não é necessário que estejamos em sofrimento ou desalento. Por vezes tudo parece bem... mas falta algo importante. Estamos numa fase boa, tudo vai correndo, mas não há satisfação pessoal. Ou, pelo menos, não tanta quanto desejamos. Por vezes é precisamente no recuperar do fôlego de lutas recentes que mais sentimos a necessidade de partir. O grande senão continua a ser aquele amor. Aquela presença constante, muitas vezes só isso mesmo. Mas um só com uma magnitude intensa embora com muito pouco daquilo a que chamamos "amor". Vivemos em ilusões mas consentimos a cegueira. Outras vezes, um amor que promete o para sempre mas não nos dá o que ansiamos do presente. Buscamos mais. Pois é aqui que eu evoluo.
Se for incondicional, esse amor estará sempre lá para nós. Abraçar-nos-á no calor das vitórias e no frio das derrotas. Desafiará os tempos e reinará na memória. Dar-nos-à a liberdade para crescer, o espaço para sermos nos próprios e encontrar-mos o que nos falta. A felicidade é o maior objectivo na vida de cada um. E esse amor entenderá isso. Da mesma forma que nos acolherá de novo se decidirmos regressar do nosso voo. Com a mesma alegria e sem rancor. Se for verdadeiro, se for incondicional, e só assim... Mas para isso, há que partir.

9 comentários:

Remoinho de Emoções disse...

Olá Nelson. Antes de mais muito obrigada pela visita ao blogue e pelo comentário...

O livro nao está disponivel na bertrand. As livrarias disponiveis estao no blog do lado direito, e podes optar por encomendar pelo site e eu propria enviarei. No teu perfil diz norte mas nao especifica. Qualquer duvida tambem pode enviar um email... com o teu mns e eu esclareço.

Quanto ao teu blogue que eu já conhecia...e penso já ter comentado antes...a dar-te os parabens. Gosto muito do que aqui se escreve... Parabens.

Um beijinho muito grande e volta sempre ;)

Marisa

Daniel C.da Silva disse...

Muito sinceramente deixaste-me sem palavras...

BRUTAL

vai JÀ buscar o premio sair das palavras la no meu canto na barra lateral direita. este é entregue "pessoalmente" ;)

Muito bom, mesmo.

Abraços. escreve mais.

Anjo De Cor disse...

Tens razão o amor entende tudo, mas tb o ser humano é muito egoísta e por vezes nem tudo é assim tão bonito...
Bjs*

João Roque disse...

Às vezes é preciso recuar um passo, para se darem dois para frente, como na dança...
Mesmo que doa, é em nome da felicidade futura.
Abraço.

Anônimo disse...

"aquilo de que gostamos não é necessariamente aquilo de que precisamos": esta frase diz tudo!
Sometimes you have to let it go...mas no fim,acabas por ganhar sempre alguma coisa.

Rita disse...

Que lindo!! É mesmo isso, tens toda a razão! beijinho

paulo disse...

ah, o amor. ainda por cima o incondicional, o que é posto à prova com a partida. há, de facto, amores assim. amores como a amizade ou o familiar. mas no erótico desconfio dessas ausências, melhor: ou é realmente grande ou esfuma-se no devir. mas basta um amor assim para tudo o resto se tornar quase secundário, sobretudo a insatisfação pessoal.
uma excelente reflexão!
e um grande abraço por isso!

najla disse...

Se o amor for verdadeiro e incondicional, não existem obstáculos nem qualquer tipo de sentimentos menos nobres que o possam corroer.

Isa disse...

Waiting 4more :)

Kiss*