Wikileaks


De quando em vez, o mundo pára para assistir a um novo fenómeno. Muitas vezes por força da necessidade dos média para fazerem manchetes, muitas outras por mérito próprio do ethos do noticiado. Não é difícil concluir que a Wikileaks é um misto de ambos casos.
Há bem pouco tempo enviaram-me para o mail deste blogue (disponibilizado nesta página) este interessante desafio de me posicionar relativamente a esta anomalia no sistema mundial que vai, em simultâneo, cumprindo o incrível e irónico designeo de se começar a inscrever nos anais da história contemporânea no mesmo passo que vai partilhando parecenças com o que postulamos ser um mito. Num como noutro, há um mérito próprio inegável...
Ora, respondendo a este desafio, será verdadeiro escrever (e dispensável que o famoso site publique matéria a corroborá-lo) que raramente tomo parte activa nas várias abordagens e consequentes discussões que em torno deste personagem se vão criando e ampliando a olhos vistos. O que a Wikileaks faz dificilmente não será ilegal e não me parece favorecer o interesse público (quanto mais o individual) em suficiência para se fazer valer enquanto instituição válida e credível na defesa do dito. Tampouco sei se será este o objectivo da organização, se assim lhe podemos chamar, tamanha é, também, a novidade da sua composição e acção.
A disponibilização de documentos tão importantes para a defesa e segurança de Estados maioritariamente ocidentais, democráticos e capitalistas virá proteger quaisquer dos seus cidadãos? Ou virá, isso sim, comprar mais umas quantas guerras, favorecer interesses de máfias, milícias e organizações terroristas da mesma forma que aumenta o sentimento de desconfiança entre o povo governado e o seu governo eleito? É que há informações tantas vezes dispensáveis do conhecimento público, sobretudo pelo seu timing. E sublinhe-se aqui o que poderá muito bem ser o maior ponto de discórdia para muitos: todo o Estado tem o direito à sua hipocrisia se aquilo a que esta se destina a camuflar não fira de forma grave os cidadão e se a sua utilização se erigir tendo em vista interesses inegavelmente maiores como a convivência pacífica. O mesmo acontece connosco próprios.
Mais: quem nos garante a legitimidade das fontes da informação divulgada? Quem nos garante a legitimidade no tratamento dessa informação?  Que benesses veio trazer toda esta avalanche provocada pela equipa de um homem que continua acima da Lei? O que é que melhorou no mundo? Postas as coisas neste ponto (erradamente ou não) a minha grande pergunta será, em última análise, a seguinte: o que é que movimenta a Wikileaks? Que interesses movem essa suposta "organização"? E não me venham com o baluarte da imparcialidade, jornalística ou não. Porque essa será uma óptima forma de evocar uma discussão para se nublar uma atitude visivelmente fraca, de pouco carácter, irresponsável. E este último adjectivo não poderá, nunca, qualificar a opinião pública. Mais do que ter informação, é importante saber usa-la...
Sim, a minha posição é muito negativista mas tem muito pouco de certa e ainda menos de cristalizada: aqui como em muitas outras ocasiões, só o tempo me dará bases para me posicionar de forma digamos mais... segura.

3 comentários:

João Roque disse...

Excelente análise de um fenómeno que veio "mexer" com o mundo político, e não só...

paulo disse...

só para registar que, sim, concordo plenamente contigo! até (e sobretudo) nos sublinhados.

Cirisley Steinberg disse...

vc nos deixou a pensar o que é melhor a estoria contada, ou historia interpretada,o que venha ser opnião da verdade.

será que esta propria verdade das palavras por estes mass medias são confiaveis.

chegando mais a fundo a biblia com suas diversas traduções e momentos historicos, é confiavel realmente.

agora temos o wikileaks seria ele a tradução da verdade inconveniente.

E obrigado por sempre passar pelo blog tb venho sempre aqui ler seus textos.