A confissão

A inspiração não me inspira nestes últimos dias. Dou graças que chova, assim não estou sozinho. As mágoas que os céus choram são minhas companheiras. De viagens ou pensares, todos esquecíveis e nunca tangíveis de realidades inventadas com personagens reais. Há quem pense que amar já é fácil. Que dizer-te as palavras caladas e que o coração sufoca de tanto gritar não é um passo, mas uma consequência. E vive tanta gente enganada sem razão... Porque o amor não é fácil. O meu e o nosso então, nunca viu atenuada a inércia áspera que se sente quando conjugamos esse verbo de terminações tão complicadas...

A chuva ainda não parou. Cai devagar e com vagar eu vou pensando pensamentos mais capazes de desafiarem o passar das horas, dos dias e dos anos. E como é longa a espera por essas horas em que aqueles com que nos encruzilhamos na rua sentirão a quentura do abraço forte como só o da abertura de novos horizontes. Esse que só acontece quando abrimos os braços à descoberta do sentir daquele cuja pele não é nossa, nem a vida...

Já é noite. A chuva funde-se e confunde-se na escuridão da rua quase deserta, aquela mesma que sente os meus passos. É assim na mente de alguns. Mas não o é na minha. Pois as luzes que iluminam a rua, as que vão e não voltam tanto como as que há muito aqui ficaram, permitem-me ver a chuva em cada uma das suas gotas. E nessa visão feliz embora turva, que me faz lembrar a esperança, vejo algo que não compreendo. Agora que as ruas têm luz, porque querem tantos continuar a deambular em escuridão? Foi por isso que desafiei tantos medos e te disse enfim que te amava.